Canso de ouvir assessor de imprensa reclamar do desempenho do porta-voz na entrevista jornalística. Mas, até que ponto o assessor realmente orienta o assessorado para que ele tenha bom desempenho quando aparece na mídia?

Para ajudar colegas jornalistas com a função de assessorar porta-vozes, escolhi 5 principais dicas para compartilhar aqui. Confira:

  1. Pesquise o perfil do veículo e do jornalista que vai entrevistar seu assessorado e repasse a ele informações como:
    – o jornalista é conhecido por ser polêmico?;
    – o repórter ou apresentador costuma fazer entrevistas superficiais ou se aprofunda no tema?;
    – se for entrevista para tv, qual é a cor predominante do cenário? A partir dessa avaliação, oriente o assessorado sobre a cor de roupa que vai vestir. Se o sofá for escuro, o terno preto vai fazer seu cliente desaparecer no vídeo;
  2. Antes da entrevista, confira a imagem do seu assessorado:
    – o cabelo está bem penteado? (se precisar de corte, avise-o dias antes da entrevista);
    – roupa amassada, gravata torta, suor debaixo do braço manchando a camisa ou no rosto, zíper da calça aberto e outros detalhes devem ser corrigidos antes da entrevista;
    – para a porta-voz, é importante orientar que não carregue demais na maquiagem (como se fosse para uma festa) e nem use transparências, braços de fora, alça do sutiã aparecendo além da blusa, decote exagerado ou acessórios enormes. Quem tem que aparecer é a notícia, não a assessorada. Exceto para artistas, modelos ou outras carreiras em que a própria entrevistada é a marca e o objetivo seja aparecer;
  3. Treine as respostas com o cliente:
    – faça uma lista de perguntas e peça que ele ofereça as respostas para que vocês dois validem o conteúdo que vai ser apresentado ao repórter. Faça ajustes priorizando a imagem que o porta-voz e a instituição desejam ter após a aparição na mídia;
    – evite entregar pronto ao assessorado o tal Q&A (perguntas e respostas). Ele não tem que decorar, ele deve entender o rumo das respostas para não se desviar do objetivo;
  4. Durante o treino e depois da entrevista, dê feedback construtivo:
    – por mais que o relacionamento entre porta-voz e assessor de imprensa seja próximo, nunca aponte erros, defeitos ou problemas; isso acaba com a autoestima de qualquer um. Indique primeiro os pontos positivos e aponte os pontos que podem ser melhorados. Tire do seu vocabulário a expressão ‘pontos negativos’. Assim você não ajuda no crescimento do seu cliente, só o assusta ainda mais e impede que ele exerça com naturalidade a função de porta-voz;
    – se a entrevista tiver sido veiculada em rádio ou tv, ouça/assista a gravação com o assessorado para avaliarem juntos o aproveitamento dele, e lembre-se do feedback positivo.
  5. Indique posturas positivas para que seu assessorado se inspire a também praticá-las:
    – cumprimentar os integrantes da equipe de reportagem (cansei de apresentar meus colegas de equipe a porta-vozes que simplesmente ignoravam os técnicos e só cumprimentavam a repórter);
    – não verbalizar pensamentos preconceituosos, mesmo que os temas da ‘conversa informal’ não tenham relação com a entrevista. Expor preconceitos raciais e de gênero já renderam gafes polêmicas que viram memes na internet e arranham a imagem do entrevistado e da marca;
    – olhar nos olhos do entrevistador confere maior credibilidade ao entrevistado e passa mais confiança ao repórter e a quem assiste a tv em casa. A câmera não deve ser o foco, mesmo que alguns políticos ainda persistam nessa mania que faz do repórter um segurador de microfone. No caso da coletiva, o olhar deve ser distribuído uniformemente a todos os jornalistas.

Tudo isso vale também para uma entrevista sem câmera. A forma como qualquer pessoa se apresenta contribui para a formação da imagem dela e da instituição que representa.

Orientações da jornalista especializada em Media Training Aurea Regina de Sá, autora de Backstage – 31 histórias sobre os bastidores de entrevistas jornalísticas.