O boato é uma informação falsa que soa como verdade. Ele pode vir da boca de um amigo, do chefe ou do parceiro, pessoas em quem você confia e, portanto, não vai achar que é mentira. Mas, há uma onda muito forte de boatos também nas redes sociais. O movimento que invade a internet do mundo inteiro é um alerta para quem propaga informação incorreta e para quem ‘compra’ notícias falsas, as ‘Fake News’.

O boato é uma faca de dois gumes: pode destruir a imagem da vítima, alvo da difamação, e também a do promotor da inverdade, porque mostra suas verdadeiras motivações:

– interesses comerciais: se uma empresa lança um boato sobre um concorrente poderá ter mais lucro por algum tempo, enquanto a marca difamada investe para justificar que não tem culpa;

– desejo de vingança por orgulho ferido ou inveja: se uma pessoa cria uma inverdade sobre outra, poderá ter o prazer de ver o outro envolvido em situações constrangedoras até conseguir provar o contrário;

– interesses eleitoreiros: se um político divulga um boato sobre outro pode ter a intenção de prejudicar a caminhada do concorrente na busca por votos e sair na frente na disputa eleitoral.

Em todos os casos, a intenção do promotor de boatos é de se sentir bem, mesmo que isso pareça algo perverso, já que a motivação é a de prejudicar o outro. A sensação de inferioridade por não ser ou parecer como o outro e a consequente necessidade de se tornar visível fazem do criador de falsas informações alguém importante, ainda mais quando ele percebe a repercussão da ‘notícia’ que produziu.

O sociólogo norte americano Jack Levin, co-autor de Gossip: The Inside Scoop (Fofoca: o Furo Privilegiado, ainda não disponível no Brasil), destaca a importância de diferenciar o significado de termos como fofoca e boato. Para Levin, fofoca é uma mensagem sobre o comportamento de outras pessoas, especialmente quando os alvos não estão presentes. O estudioso afirma que boato é um processo pelo qual os indivíduos tentam definir uma situação ambígua. “Eles, então, espalham notícias informalmente porque as fontes oficiais não existem ou estão inacessíveis”, revela.

Partindo do princípio de que o Brasil é uma democracia e a imprensa é livre, as fontes oficiais não só existem como estão disponíveis. Com o acesso de 116 milhões de brasileiros conectados à internet, em 2016, que representa 64,7% da população com idade acima de 10 anos, (dados do IBGE de fevereiro de 2018) não dá pra usar a desculpa de que a informação foi propagada por que não havia como checar.

Saiba como checar uma informação recebida pelas redes sociais

Para evitar uma conclusão precipitada e parar de dizer frases como: ‘eu ouvi dizer que….’ ou ‘não sei direito, mas acho que é isso’, siga os passos abaixo e certifique-se antes de publicar qualquer informação:

1º passo: duvide, sempre questione. A primeira pergunta que deve ser feita é ‘será que isso aconteceu mesmo?’

2º passo: busque referências na internet, que possam atestar a informação ou contradizê-la. Acesse sites de notícias que sejam avaliados com alto nível de credibilidade. Não acredite em um só veículo: analise, compare, reflita. Neste momento dispense sua crítica sobre a política editorial de determinados veículos de imprensa. De qualquer maneira, na imprensa, uma notícia é checada antes de ser publicada.

3º passo: acesse sites que conferem boatos. Com o surgimento das fake News, cresce o esforço para esclarecer informações e aumentar a conscientização das pessoas,

4º passo: NÃO espalhe notícias falsas, nem por brincadeira. Pessoas mais ingênuas e as que não investem na checagem, acreditam em qualquer informação e isso reflete, inclusive, no futuro do país, porque elas votam mal e elegem candidatos fabricados em cima de fake News,

5º passo: não seja conivente com a mentira, interfira, interrompa a multiplicação da mensagem duvidosa, advirta os integrantes de grupos e seus seguidores nas redes sociais. Não coloque mais lenha na fogueira e deixe de ser marionete a serviço da desinformação,

6º passo: seja cidadão, pratique a empatia e desenvolva a capacidade de crítica para contribuir com a melhoria da sua vida e a dos outros.

Como avaliar se uma informação é verdadeira ou falsa

A informação imprecisa, que não apresenta o autor e nem a fonte pesquisada, pode ter indícios de que não tem teor verdadeiro. O fato de ser publicada em um site, blog ou rede social não significa que foi produzida com o cuidado da checagem, prática do jornalismo sério e ético. A apresentação de fatos também não garante a credibilidade da informação, porque os fatos podem ter sido inventados para confundir o leitor e criar um conceito negativo sobre aquele que é foco da notícia.

Para avançarmos nessa reflexão, é importante também entender a diferença entre informação e opinião.

Informação é fato, algo real, objetivo.

Exemplo: Segundo o IPM – Instituto Paulo Montenegro – e a ONG Ação Educativa, somente 8% da população brasileira em idade de trabalhar são consideradas plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números.

A informação acima foi publicada no UOL Educação, em 2016, e pode ser conferida aqui.

Se o internauta tiver dúvidas sobre a veracidade da informação, poderá consultar os sites das instituições citadas e confirmar os dados.

Opinião é uma conclusão de alguém com base numa informação real ou não e na própria vivência e crenças de quem opinou. Opinião é algo subjetivo e que não retrata necessariamente a verdade dos fatos, principalmente se for proferida por alguém sem conhecimento sobre o tema que opina.

A opinião pode estar carregada de julgamento e preconceito e se emitida com irresponsabilidade pode não contribuir com o aculturamento da sociedade.

Na linha do exemplo apresentado acima, uma opinião inadequada seria: ‘o brasileiro é um burro’. Carregada de generalização, a opinião cria um conceito errado na cabeça de quem lê e contribui para a desinformação.

Exemplo prático

Um vídeo com imagens de aviões e uma música empolgante mostrava mensagens de desilusão sobre a forma como o Brasil vem sendo governado, junto com um chamamento para a população tomar a iniciativa para a mudança. O vídeo circulou no final de 2017 pelo aplicativo Whatsapp e tinha o logo da Embraer.

Ao receber o material, logo desconfiei e fiz uma análise que vou compartilhar com você:

– o vídeo tem uma edição sofisticada com imagens de aviões da empresa, mas a inclusão de palavras com as mensagens fictícias (chamado na tv de GC – gerador de caracteres) não acompanha a mesma qualidade do material,
– há erros de português,
– existe teor político no conteúdo exposto.

Por que considerei o conteúdo falacioso?:

– fiquei surpresa com os créditos inseridos sobre as imagens; a edição não me pareceu profissional;
– uma empresa desse porte não faria um vídeo com erros de português,
– uma empresa que nasceu como uma sociedade de economia mista, vinculada ao Ministério da Aeronáutica do governo brasileiro, não se posicionaria politicamente contra o próprio governo.

O vídeo divulgado nas redes sociais era esse:

Para me certificar das impressões que tive, acessei a Fanpage da empresa e confirmei que o vídeo, em parte, era um fake. Leia o post publicado pela assessoria de comunicação da Embraer para esclarecer sobre a repercussão do material:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A edição das imagens era realmente da Embraer, mas alguém anônimo usou a produção para incrementá-la com frases que não condizem com a essência e comportamento da empresa, ou seja, um autor não identificado usou de má fé para atribuir à Embraer a responsabilidade sobre uma mídia (vídeo) que ela não publicou. Esse é o típico exemplo de notícia falsa que pode enganar facilmente.

Veja o vídeo original divulgado pela empresa no canal do Youtube em 23 de junho de 2017:

Para não se enganar e não fazer papel de bobo replicando mensagens inverídicas, seja cidadão e confira as informações antes de compartilha-las nas redes sociais. Quem promove notícia falsa coloca em dúvida o próprio caráter, mostra falta de compromisso com o bem-estar do outro e nenhuma preocupação com a própria imagem.

Como minimizar os efeitos de um boato

Um boato ou fofoca são como uma bomba sobre uma marca física ou jurídica. Mesmo que a informação inverídica não seja confirmada, os prejuízos financeiros e morais podem ser incalculáveis e muitas vezes nunca recuperados. E tem muita gente que ganha com eles. O professor de psicologia, Nicholas DiFonzo, estudioso do fenômeno dos boatos, defende que os boatos são do interesse de todos que desejam liderar, administrar, informar, influenciar, persuadir ou guiar outras pessoas por meio das quais uma história poderia circular.

No livro O Poder dos Boatos, editado no Brasil pela Campus, DiFonzo revela que onde há incerteza pode haver boatos. “A incerteza também é algo que os líderes deveriam tentar medir regularmente. Isso pode representar um desafio.

Mesmo quando a dúvida é muito grande, as pessoas talvez não se sintam propensas a interrogar fontes oficiais e, naturalmente, essa relutância leva a um aumento da ambiguidade”, afirma o pesquisador.

Portanto, todo esclarecimento é bem-vindo para resolver qualquer dúvida e, para evitar grandes e penosos efeitos, é importante agir rápida e objetivamente quando surge um boato.

Se você é um porta-voz

Especialmente o porta-voz, que é a cara da marca que representa, precisa transmitir confiança ao se relacionar com jornalistas para se comunicar com os públicos de interesse. É o que ensina o Media Training, treinamento que auxilia na capacitação de quem deseja um bom desempenho na hora da entrevista. Para aumentar as chances de aceitação de suas declarações, é importante ficar atento a algumas posturas:

– Esteja disponível para entrevistas. O espaço da mídia é a oportunidade que você e a marca precisam para oferecer a própria versão dos fatos e tentar combater as inverdades ou fake News;

– Siga as determinações da área de comunicação da empresa que você representa, seja pública ou privada, e só dê declarações autorizadas;

– Seja claro e objetivo. Na construção das frases, prefira a ordem direta para evitar rodeios e dupla interpretação;

– Não diga ‘eu acho’. Afirme algo categoricamente ou diga que não pode afirmar algo que não tem provas;

– Olhe nos olhos dos repórteres. O telespectador está em casa percebendo o que significa a sua linguagem corporal;

– Mantenha a calma. Se quem não deve, não teme, não vá você enfatizar um problema que não existe:

– Em vez de gastar tempo se justificando, invista conteúdo para construir conhecimento para quem tem dúvidas sobre a idoneidade da marca. Esclarecimento é o antídoto para a desinformação;

– Se preciso for, grave vídeos para distribuição nas redes sociais. Nenhuma empresa deve contar somente com a divulgação a partir dos canais tradicionais. Os canais da própria empresa, como site e redes sociais devem ser usados o mais rápido possível para estancar o boca-a-boca que pode ser prejudicial à imagem da marca;

– Monitore as redes sociais e não deixe ninguém sem resposta. Há irresponsáveis que usam as redes para polemizar e criar inverdades com o simples prazer de prejudicar o outro.

ENTENDA MAIS SOBRE BOATOS:

Literatura sobre o tema:

→ Entre a glória e a vergonha, Mario Rosa. Geração editorial.

→ A era do escândalo, Mario Rosa. Geração editorial.

→ A reputação na velocidade do pensamento, Mario Rosa. Geração editorial.

→ A síndrome de Aquiles, Mario Rosa. Editora Gente.

→ Gossip: The Inside Scoop, do sociólogo Jack Levin. Editora Springer.

→ O Poder dos Boatos: como os rumores se espalham, ditam comportamentos, podem ser administrados e por que acreditamos neles, de Nicholas DiFonzo, da Editora Campus.

→ Boatos, o mais antigo mídia do mundo, de Jean-Noel Kapferer. Editora Forense

Canais críveis para checagem de notícias:

Boatos

Aos fatos

Agência Lupa