O jornalista só quer me prejudicar! Como tem gente que diz isso, uau! Eu ouvia muito essa e outras expressões parecidas quando era repórter, e ainda ouço nos Media Trainings que ofereço. Mas, os porta-vozes dizem isso só no início do treinamento, até terem contato com o programa de desenvolvimento que eu compartilho.

A experiência me mostra que não basta só conhecer a rotina da redação e o perfil do jornalista se o porta-voz não for submetido a um processo de autoconhecimento. Sem isso, sobram crenças destrutivas como a de que ‘o jornalista está armado com um microfone na mão e quer me pegar’.

Quais as evidências de que o repórter vai prejudicar o porta-voz? Quais as chances disso acontecer? Perguntas como essa podem ajudar a reduzir a ansiedade e fortalecer a auto-confiança de quem vai dar uma entrevista. Se pensamentos negativos povoarem a mente do entrevistado que cria cenários desfavoráveis, não vai resolver nada ter domínio do conteúdo. Para aproveitar bem o espaço oferecido pela mídia, aí vai uma recomendação: focalizar o que interessa, porque criar uma cena catastrófica antes da hora H não vai ajudar em nada mesmo.

Então, vamos considerar somente o que é real:

1. o jornalista usa o microfone, porque o equipamento é necessário para gravar o áudio da entrevista na tv ou no rádio. Repórteres de jornal, revista ou blog também poderão gravar a entrevista com um celular para não perder tempo escrevendo. A técnica facilita a reprodução mais fiel do que foi dito;

2. o jornalista não baterá o microfone na cabeça do entrevistado, nem usará o equipamento para fazer ameaças. Lembre-se: o microfone não é uma arma. O repórter poderá esbarrar o equipamento no porta-voz se estiver participando de uma coletiva, mas, isso pode acontecer por descuido e não é proposital. A ânsia de se posicionar próximo do entrevistado e garantir a captação do áudio provoca, às vezes, um movimento de empurra-empurra entre os jornalistas e cinegrafistas, mas não é nada agressivo ou assustador;

3. em casos em que o entrevistado tem ‘culpa no cartório’ e não fizer questão de uma relação saudável com a imprensa, é possível que o repórter grave a conversa sem autorização. Sem entrar no mérito do aspecto legal, recomendo que só fale o que pode falar sem risco de comprometimento;

4. a imagem do microfone e do celular, o entrevistado conhece bem, mas talvez não esteja tão acostumado com equipamentos chamados de espião, como caneta, botão, isqueiro, relógio, camisa, chaveiro, boné ou boton. O entrevistado pode não estar ciente que sua imagem ou fala estejam sendo gravadas, então a dica é manter a postura correta para não se arrepender depois.

Ou seja, o jornalista não quer prejudicar o porta-voz!

Independente da estratégia ou abordagem do repórter, o mais importante é se responsabilizar pela atuação e forma de manifestação. Não importa o que o outro faça, o que vale é a reação. Portanto, a saída é a preparação. O media training existe para ajudar porta-vozes a tirar proveito das aparições na mídia para reforço da imagem pessoal e corporativa.