‘Para bom entendedor, meia palavra basta’ pode ser uma crença equivocada. Para entender claramente o que esse ditado popular significa, vamos dividir a frase e provocar alguns questionamentos:

1. PARA BOM ENTENDEDOR:
– O que é ser bom entendedor?
– Que nível de conhecimento o meu interlocutor deve ter para que eu o julgue um bom entendedor?
– Que nível de rapidez eu espero desse tal bom entendedor?

2. MEIA PALAVRA BASTA:
– Por que só meia palavra?
– Essa meia palavra é em português ou em um idioma desconhecido pelo interlocutor? – por que tenho pressa de ser compreendido tão rapidamente?

O ditado popular me parece um tanto arrogante, porque exige do interlocutor que ele tenha desenvolvidas todas as habilidades que EU julgo ter. Vamos reverter a proposta da expressão e pensar sob o ponto de vista do interlocutor que é cobrado a ser bom. Imagine que ele está perguntando:

– Em que nível eu tenho que ser bom entendedor?
– Por que ele espera que eu seja rápido e entenda tudo o que ELE já sabe, mas não quer detalhar para mim?
– Será que poderíamos conversar mais um pouco até que eu compreenda suas intenções, já que não ficaram tão claras assim?

Talvez com mais informações, eu possa entender mais rapidamente. Exercitar a empatia (se colocar no lugar do outro) pode facilitar as coisas, não é mesmo? E praticar a tolerância também pode contribuir.

Mas voltando ao outro lado do balcão, é possível imaginar que se algo for explicado com clareza, a comunicação vai fluir melhor. Se você não explica, como é que eu vou entender? E enquanto tento me esforçar para encontrar uma resposta, começo a especular. Por isso, a comunicação é tão delicada e precisa ser aprimorada para que o outro nos compreenda e compre nossa ideia. Para facilitar a comunicação, pense no seguinte:

– Avalie seu interlocutor, sinta a forma de absorção dele sobre o que você disse. Se ele fizer ‘cara de ué’, vale a pena investir numa explicação mais detalhada para esclarecer o que você quer dizer.
– Cuide do vocabulário dessa explicação. Os jargões que você usa na sua área de trabalho podem ser totalmente desconhecidos para a pessoa com quem conversa. Separe as coisas: jargões são usados entre pares; palavras comuns, simples e fáceis de serem compreendidas são a melhor pedida para que sua mensagem seja realmente transmitida para o outro.
– Ilustre o seu discurso com o uso de comparações, exemplos, referências a situações ou pessoas. Se você trouxer a explicação para o dia a dia da pessoa, ela se identificará com isso e compreenderá sua mensagem.
– Se o outro disser que não entendeu, não adianta repetir a mesma coisa gritando! Ele só disse que não entendeu, e não revelou que tem dificuldades de ouvir. Se ele pediu para você repetir, na certa sua explicação estava truncada.

Faça o exercício de reconstruir isso para tirar proveito da relação com o outro. Tudo isso é prática e o resultado não acontece da noite pro dia. Mas a melhor saída é estar aberto para se conhecer, se perceber e perceber o outro para que ambos tenham sucesso nessa comunicação.