O que antes eram boatos, hoje são fake news. Vivemos na era das fake news, notícias falsas que se propagam com facilidade e rapidez nas redes sociais e alcançam milhões de pessoas espalhando mentiras e medo. A alguns os boatos geram dúvidas, a outros são a confirmação que precisavam para reforçar suas crenças. Para Nicholas DiFonzo, professor de Psicologia do Rochester Institute of Technology, em Nova York, Estados Unidos, a principal razão pela qual as pessoas acreditam em boatos é porque eles (os boatos) estão em consonância com os sentimentos, ideias, atitudes, estereótipos, preconceitos, opiniões ou conduta dos ouvintes. Ou seja:

Um boato pode encontrar eco na ansiedade do ouvinte.

O estudioso desse fenômeno é autor de O Poder dos Boatos, da editora Campus.

A identificação com a notícia pode gerar satisfação e não suscitar dúvida, por isso o consumidor da fake news não sente necessidade de buscar a prova da verdade. O repasse da informação não checada pode multiplicar ações negativas, como o discurso de ódio, julgamento e preconceito. Entretanto, normalmente, quem ajuda a disseminar o boato não tenha consciência de que está praticando uma ação prejudicial, porque ele realmente acredita que está ajudando outros a terem acesso à mesma informação que ele acredita ser verdadeira.

De acordo com DiFonzo, o poder dos boatos está presente sempre que há duas ou mais pessoas juntas, porque espalhar boatos é humano. Antes o fenômeno ficava restrito a reuniões presenciais na área do café da empresa, por exemplo, com o nome de rádio peão. Agora, com a força da internet, ele pode tomar proporções inter continentais com apenas um clique.

Você já ouviu falar sobre rumores que relacionam o consumo de determinados alimentos a doenças, a rotina de artista ou atleta que se comportou mal ou sobre empresas que foram penalizadas com a queda nas vendas de produtos ou serviços? Muitos desses casos nunca foram confirmados e geraram comportamentos equivocados em quem acreditou. Por isso, é grande a responsabilidade de quem aceita uma notícia sem desconfiar de sua origem e a distribui sem o cuidado de conferir seu nível de veracidade.

Você pode usar seu poder de comunicação para conferir se a notícia é falsa ou verdadeira:

– se não há a identificação da fonte, desconfie. Toda informação precisa ser atestada por uma fonte de credibilidade. Repare neste artigo. Em alguns trechos, eu nomeio o autor do livro O Poder dos Boatos como o ‘dono’ da informação que presto a você. Se fosse um artigo 100% opinioso, eu não precisaria indicar fontes, mas nesse caso, faço questão de compartilhar com quem tive o aprendizado. Caso queira confirmar, é só comprar o livro ou buscar artigos acadêmicos do autor no site da universidade em que ele trabalha;

– se o autor da informação (escrita ou gravada) não tem credibilidade comprovada, fique esperto. Pode ser um veículo de imprensa, um portal de notícias ou uma pessoa. Fique atento a postagens que responsabilizam pessoas de credibilidade a determinadas falas. Depois de ampla divulgação, as agências de detecção de fake news (fact-checking) costumam anunciar que são inverídicas. Então, procure conferir se a informação é verdadeira mesmo, antes de distribui-la em grupos de whatsapp ou compartilhar no Facebook e outras redes. O próprio Face divulga uma série de ações que ajudam a identificar a veracidade das informações. Leia aqui;

– mesmo que você se identifique com a intenção da notícia, questione-se. Perguntar para si mesmo se aquilo pode ser verdade é uma forma de entender se deve acreditar e depois compartilhar. Além de ser uma maneira saudável de sair do piloto automático para dirigir a própria vida, sem cair na tentação de seguir junto com a manada. Em seguida, faça a checagem indicada no item acima;

Checar a veracidade da notícia dá trabalho, mas é a melhor forma de impedir que mais pessoas sejam atingidas por mentiras. Afinal, o boato pode ser usado como estratégia para dirigir a sociedade.