Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos botei fogo numa montanha de palha que servia para o transporte de telhas, na olaria do meu tio, em Penápolis, interior de São Paulo. Eu me sentei à beira daquela palha fofinha e comecei a riscar fósforos. Até que: slug. Tudo se foi em poucos segundos. Fiquei tão assustada e com tanta vergonha! Meu pai pagou o prejuízo e eu levei uma bronca horrível.

Aos 15, eu ganhei de uma ‘amiga’ uma bala que soltava uma tinta azul. Muito ingênua e sem perceber a pegadinha, coloquei na boca e logo apareceu a mancha que sujou minha língua e a camiseta do uniforme. Foi na hora do intervalo na escola. Todo mundo riu na minha cara! Eu não sabia onde enfiar minha cabeça de tanta vergonha!

Aos 23, pintei minhas unhas de vermelho pela primeira vez e saí com o namorado. Eu estava ‘me achando’. O rapaz, cheio de complexos, me disse que eu parecia uma p&*%$ta. Senti uma culpa incrível e escondi minhas mãos de vergonha o resto da noite, numa festa de aniversário.

Daria pra escrever um livro com tantas situações que já vivi. E sobrevivi! 😊

O sentimento de vergonha, como diz Brené Brown, pesquisadora norte-americana e autora de Coragem de Ser Imperfeito, é uma dor real. Só quem já sentiu sabe como dói. E você só se cura quando percebe que pode se amar e ser digno de amor apesar de suas imperfeições.

O livro dela é fruto de uma pesquisa de doutorado muito séria e que é a base do meu programa de coaching de comunicação. Recomendo muito que você leia para entender que:

– pode se expor sem receio de parecer insuficiente;
– deve se mostrar para que as pessoas te vejam. Permita-se;
– não precisa se julgar tão ferozmente como só um inimigo voraz faria;
– pode livrar-se da crença de que não faz nada direito;
– é merecedor de tudo o que é bom.

Nas situações que relatei acima e em outras que vivenciei e senti vergonha, eu acreditei mesmo que a culpa era minha. No incêndio à montanha de palha era mesmo, eu fiz uma arte terrível. Mas nos episódios da bala com corante e das unhas vermelhas eu não tive culpa de nada. Quer dizer, nos dois casos eu fui a protagonista: aceitei a bala e a ‘amiga’ que duas décadas depois – quando nos reencontramos –  me pediu desculpas, e também aceitei o namorado troncho e suas frustrações. A gente sempre é responsável pelas escolhas que faz e também é responsável pela forma como reage às situações. Naquelas ocasiões, eu não tinha esse entendimento ainda.

O que importa é que agora eu tenho por causa da minha escolha de me conhecer e perceber meu valor. E entender que só quando entendemos nosso autovalor podemos enxergar melhor a nós mesmos, às situações e aos outros.

Esse é o caminho também para quem deseja se comunicar melhor. Enquanto houver vergonha de se expor, mostrar ideias, compartilhar conhecimento, fazer perguntas, cumprimentar um estranho, puxar um papo sem interesse, pedir e oferecer ajuda, não haverá uma comunicação que se conecta. A comunicação do olho no olho, o contato sem reservas e o papo fluido, sem amarras, só acontece quando você se livra do que te segura para não mostrar quem realmente você é. E assim, o outro não pode ter acesso à pessoa maravilhosa que é você, mas, pra isso, antes de qualquer coisa, você tem que se sentir merecedor de ser maravilhoso!

Abrace isso, porque é seu!